Quanto à avaliação e classificação da Lista Mundial da Perseguição (LMP), o país continua com a mesma pontuação ocupando o primeiro lugar… A pressão média sobre os cristãos permanece em um nível extremo em todas as esferas da vida.
Esse padrão de pontuação máxima em todas as esferas da vida reflete a realidade de um Estado em que a paranoia ditatorial é evidente em cada segmento da sociedade. Provavelmente, não há outro país no mundo em que o termo “paranoia” se encaixe melhor; isso afeta tudo na Coreia do Norte.
Estimativas do número de cristãos variam de 30 mil a “várias centenas de milhares”. Naturalmente, é difícil confirmar quaisquer números devido ao ambiente altamente restritivo. Com base em informação de parceiros na região, a Portas Abertas estima que haja entre 200 e 400 mil cristãos. Seja qual for a estatística usada, todos os relatos mostram que o número de cristãos está crescendo lenta, mas estavelmente.
Uma informação curiosa retomou a discussão no meio acadêmico e também religioso, após o historiador Andrei Lankov, professor da Universidade Kookmin, em Seul, na Coreia do Sul, ter afirmado que Kim Jong-un, atual ditador da Coreia do Norte, é bisneto de missionários cristãos.
A Coreia do Norte ocupa o primeiro lugar na lista mundial de perseguição religiosa, segundo a organização Portas Abertas. O cristianismo é a religião mais perseguida, o que chama ainda mais atenção.
“Os pais de Kim Il-sung eram ativistas cristãos e pertenciam à primeira geração de coreanos a receberem uma educação moderna de estilo ocidental”, disse Lankov. Kim Il-sung foi o avô de Kim Jong-un (atual ditador), falecido em 1994.
Após o Exército Japonês ser expulso da Coreia do Norte pela União Soviética, em agosto de 1945, Kim Il-sung foi eleito pelo regime de Stalin como o líder coreano. Ele se destacou como combatente e por isso obteve o respeito dos aliados de guerra e também da população.
Kim Il-sung, no entanto, nasceu dois anos após a Coreia do Norte se tornar uma colônia do Japão. Ele não vivenciou o período em que seus pais presenciaram um grande avivamento espiritual no país, em 1907, e posteriormente não compreendeu o significado teológico disso, uma vez que viveu em um contexto de guerra.
“Na época de seu nascimento, o regime colonial japonês passava por seu estágio mais repressivo e brutal. O país estava sob ocupação militar, os coreanos não tinham voz em questões políticas e o único jornal em língua coreana era um publicado pela administração colonial”, explicou Lankov, segundo o Korea Times.
“Historiadores da corte norte-coreanos embelezaram e reinventaram a história da família de Kim Il-sung, transformando seus pais em ‘líderes da resistência nacional’. Mas a verdade não é essa. Kim Il-sung nasceu em uma família moderadamente rica e trabalhadora cujos membros tinham envolvimento em atividades de resistência contra aquele sistema colonial], mas eles não eram líderes de resistência, nem mesmo ativistas proeminentes”, destaca o historiador.
Lankov esclareceu ainda que Kim Il-sung não tinha o interesse de se envolver com política, mas provavelmente por seu destaque na carreira militar, terminou sendo obrigado. Segundo o historiador, o líder coreano se tornou o “pequeno Stalin da Coreia”.
“Uma vez no controle total da situação, Kim introduziria uma versão do comunismo que era consideravelmente mais restritiva que seu arquétipo soviético. Em essência, Kim Il-sung conseguiu sair do próprio formato de Stalin”, destaca Lankov. “O nível de controle estatal foi verdadeiramente sem precedentes na história mundial”.
Mesmo sabendo dos riscos, dezenas de missionários estão atuando na fronteira da Coreia do Norte com o objetivo de espalhar o cristianismo pelo país que mais persegue cristãos no mundo.
Um desses missionários é uma mulher coreana – chinesa de 69 anos, que vive na região fronteiriça do nordeste da China e não teve sua identidade revelada por razões de segurança.
Conhecida como mãe por norte – coreanos que recebem dela alimento, um lugar para ficar e até mesmo dinheiro, a missionária vem discipulando essas pessoas a fim de prepará-las para pregar o Evangelho de Cristo na Coreia do Norte.
“Eu sempre oro e estou com Deus, então não estou preocupada”, disse a mulher a respeito dos riscos que ela e qualquer cristão pode enfrentar na região.
Dez missionários e pastores do grupo morreram misteriosamente nos últimos anos, segundo o reverendo Kim Kyou Ho, chefe da organização Chosen People Network em Seul, capital da Coreia do Sul. A Coreia do Norte é suspeita de ter causado todas essas mortes.
Outras centenas de missionários foram presos ou expulsos pela China, que proíbe os estrangeiros de fazer evangelismo religioso.
Embora seja monitorada pelas autoridades de Pyongyang e Pequim, a mulher coreana-chinesa realiza o trabalho missionário com norte – coreanos há 20 anos. Maior parte de seus esforços é com mulheres que estão na China legalmente após conseguirem vistos para visitar parentes que moram lá.
Ela e outros missionários da fronteira fornecem quartos aos visitantes norte – coreanos e esconderijo para aqueles que estão fugindo. Os convertidos de maior confiança voltam para casa, na Coreia do Norte, e compartilham secretamente o que aprenderam sobre o cristianismo, às vezes levando consigo Bíblias.
Oposição do governo
O governo norte – coreano de Kim Jong-un acusa a agência de espionagem da Coreia do Sul de usar os missionários para coletar informações sobre seu programa nuclear secreto, bem como para contrabandear materiais religiosos por meio de folhetos, CDs e pen drives, e construir igrejas secretas com o objetivo de minar a liderança de Kim.
O governo de Seul nega fortemente essas alegações. Pelo menos dois pastores sul – coreanos foram detidos no Norte sob essas acusações.
A Coreia do Norte alega, oficialmente, que garante a liberdade de religião para seus 24 milhões de habitantes. Porém, a realidade é bem diferente. As pessoas envolvidas na distribuição de Bíblias, cultos secretos de oração e redes de igrejas subterrâneas são presas ou executadas, de acordo com ativistas e desertores.
A Coreia do Norte tem cinco igrejas sancionadas pelo governo em Pyongyang, mas os críticos dizem que são instalações falsas abertas apenas para visitantes estrangeiros.
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